
O GRAM escolheu a capital do gótico para a celebração deste ano. Entre passado e presente, visitou-se conventos e igrejas, recordou-se Salgueiro Maia e mulheres de fibra que deixaram a sua marca. Assim será até a igualdade ser plena
Inês F. Neto
Quatro autocarros de aluguer levaram cerca de duas centenas de sócios e acompanhantes até Santarém para celebrar o Dia Internacional da Mulher promovido pelo GRAM no dia 11, o sábado seguinte ao 8 de março.
Como habitualmente, os participantes foram divididos em grupos, quatro devido ao seu elevado número, cada um orientado por um guia local. Munidos de áudio-guia para melhor ouvir as explicações, os sócios percorreram as ruas da cidade, ao encontro de conventos, igrejas e túmulos que justificam o epíteto de capital do gótico.
Entre os muitos exemplos, os sócios do MAIS visitaram o Convento de Stª Clara, que D. Afonso II mandou construir e dedicou a sua filha D. Leonor Afonso, cujo túmulo está no interior. Por ser um convento feminino, tem a particularidade de a porta ser lateral. Dizem as más línguas que dele partiam túneis secretos até ao convento masculino de S. Francisco, a pouca distância.
Do lado contrário, a Escola Prática de Cavalaria, hoje ocupada por serviços públicos, que ficará para sempre ligada ao nome de Salgueiro Maia e ao 25 de Abril, pois dali partiu rumo a Lisboa a força militar comandada pelo capitão para ocupar o Terreiro do Paço e, posteriormente, cercar o Quartel do Carmo obrigando o Chefe do Governo a render-se.
Os grupos do MAIS visitaram também a Sé Catedral, que foi dos Jesuítas antes da expulsão; a belíssima capela da Piedade, onde existiu a Porta de Leiria, uma das entradas na cidade.
Tempo ainda para perambular pelas ruas e descobrir a Casa do Brasil, construída a partir de estruturas habitacionais pertencentes à família de Pedro Álvares Cabral, bem como a Igreja da Graça, onde está a lápide do descobridor do Brasil, que viveu 27 anos em Santarém. O templo, caraterístico do gótico português, tem as suas singularidades: as duas rosáceas, a escadaria na entrada e o túmulo de D. Pedro de Meneses, ladeado pelos da esposa e da amante. Próximo ao templo, a estátua do descobridor.
Os sócios puderam também admirar a Igreja da Misericórdia; a Igreja de Marvila, erguida no espaço da antiga sinagoga; a Torre das Cabaças; exemplares de azulejaria espalhados pela cidade; ou o Teatro Sá de Bandeira erguido sobre a antiga praça de touros em madeira, em homenagem ao escalabitano da revolução setembrista de 1836, várias vezes ministro e cinco vezes presidente do Conselho que foi responsável por várias reformas, entre elas a do ensino, e a abolição da escravatura nas colónias.
Mulheres notáveis
Durante um almoço revigorante e enquanto eram projetadas fotos de sindicalistas e de mulheres de destaque nas mais diversas áreas, os membros do GRAM, Amália Varela (coordenadora), Eugénia Silva e Teresa Pereira deram as boas- vindas a todas e a todos os presentes.
Para homenagear as mulheres, este ano o GRAM surpreendeu os presentes com a apresentação de cinco senhoras especiais. Amália Varela deu a conhecer a vida e obra de Marie Curie, a única mulher a ganhar dois prémios Nobel: da Física, em 1903, e da Química, em 1911.
Eugénia Silva recordou Beatriz Ângelo, feminista e lutadora pela igualdade de género e a primeira mulher a votar em Portugal, em 1911, e que foi, também, a primeira mulher médica cirurgiã. A escritora, poetisa e deputada Natália Correia ganhou vida através de Teresa Pereira, que lembrou a sua voz interventiva, contundente, irónica na política e na sociedade, e na defesa dos direitos humanos e das mulheres.
Num regresso ao presente, Tânia Maltez, o mais jovem elemento dos Corpos Gerentes, salientou o percurso de Mafalda Farelo, a jovem cientista portuguesa, virologista, que nos Estados Unidos estuda o vírus responsável pela Covid-19, em cuja vacina participou.
Por último, Antónia Adelaide Ferreira, mais conhecida por Ferreirinha, a senhora do vinho do Porto, apresentou-se aos sócios. Vestida a rigor, ganhou vida na interpretação da atriz Maria Helena Falé. E no final, um brinde coletivo com vinho do Porto. Obviamente.
Lutar
De volta à atualidade, os presentes ouviram a intervenção do Presidente, que esteve ladeado por todos os membros da Direção.
António Fonseca elogiou a originalidade do GRAM ao recordar aquelas cinco grandes mulheres, frisando que “poderíamos falar de muitas outras que foram importantes na história de Portugal e do mundo”.
Referindo-se ao objetivo desta comemoração, desejou que brevemente deixe de ser necessário lembrar a data, “porque é sinal” de que a igualdade foi atingida.
“Enquanto isso não for uma realidade, a luta é necessária e nós, Sindicato, vamos continuar a trabalhar nesse sentido e a fazer este tipo de comemorações. Será bom o dia que deixarmos de comemorar, é sinal de que as mulheres estão de pleno direito na sociedade.”
Salientando um papel fundamental, ser mãe, pediu uma grande salva de palmas às mães e às mulheres do mundo inteiro. “Como filho único, sei bem do que falo”, adiantou António Fonseca.
A verdade dos factos
Sendo momento de campanha para as eleições dos Corpos Gerentes, o Presidente da Direção lembrou: “Somos talvez o único sindicato onde há eleições de uma forma democrática, com listas alternativas. É a nossa história e é assim que queremos que continue a ser”.
Por isso, e face a afirmações que estão a causar dúvidas nos sócios, António Fonseca considerou necessário dar alguns esclarecimentos e repor a verdade dos factos.
Referiu-se ao curto encerramento do SAMS por ocasião do primeiro surto de pandemia, quando o desconhecimento sobre uma doença altamente contagiosa era enorme e ainda não havia vacinas.
“Por imposição do nosso diretor clínico, que nos disse que se não fechássemos o SAMS púnhamos em risco doentes, médicos e técnicos, tivemos aquela reação, na salvaguarda de todos”, explicou acrescentando: “Não queiram julgar-nos por algo que não fizemos. Respeitámos as indicações de quem sabia mais do que nós. Mas nos seguintes surtos pandémicos o SAMS nunca fechou”, lembrou.
António Fonseca esclareceu novamente essa questão, pois “há Listas que se aproveitam disso, dizendo que não fecham o SAMS.”
E adiantou: “Dizem também que o SAMS deve ser o que era há 30 anos. Colegas, não se deixem iludir. O SAMS não poderá, nunca mais, ser o que era nessa altura, quando os bancários eram suficientes para encher o Hospital, o Centro Clínico e as clínicas. Hoje o SAMS precisa dos particulares. Sem eles não sobreviveremos muito tempo para continuar as dar as comparticipações atuais.” António Fonseca referiu-se ainda à dura luta e negociação complicada com o Governo e os bancos, mas o Sindicato conseguiu a meia pensão para os reformados bancários. A festa prosseguiu com o habitual bailarico com música ao vivo, o sorteio de prémios e, antes do regresso, um reconfortante lanche que incluiu canja e frango.
